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domingo, 6 de março de 2016

495 - Reflexões sobre o sistema educativo Finlandês II


Na sequência da minha publicação de 28 de fevereiro continuo agora o meu relato sobre a minha dupla experiência em Joensuu, na Finlândia, onde tive a oportunidade de conhecer mais de perto o sistema educativo Finlandês.


I - reflexões gerais - 2ª parte


8 - Estabilidade das políticas educativas que tiveram origem nos anos 80 e 90

Em tudo o que li, pareceu-me existir uma grande estabilidade das políticas educativas, senão vejamos:

- Basic education act de 1998;
- Qualifications of educational staff de 1998;
- Autonomia das escolas e descentralização educativa, abolição das inspeções - anos 90 do século XX;
- National core curriculum - janeiro de 2004;

Poderemos objetar que também em Portugal a LBSE é de 1986, mas é do domínio público que desde 2001 se assistiu a uma série de reformas curriculares de 4 em 4 anos sem que se conheçam avaliações das falhas dos modelos anteriores.

9 – Retenções

Quase não há retenções na Finlândia, em cada ano só cerca de 0,4% dos alunos do ensino básico ficam retidos (cerca de 2000). Creio que isto também decorre de uma filosofia de base do sistema. Explico-me: não acredito que todos os meninos finlandeses sejam focados na sua aprendizagem e que estes sejam muito diferentes dos alunos portugueses que parecerão decididos em não aprender. A questão é que a filosofia do sistema e da avaliação é diferente. Alí procura-se o sucesso, aqui retém-se o aluno pelas mais diversas razões, acha-se isso natural. A retenção faz parte da filosofia do ensino Português e a mentalidade do professor está preparada para tal.
A lógica da avaliação não é para o certificado/certificação, mas para dar feedback concreto aos alunos de modo a que estes aprendam e tenham motivação para aprender. Um feedback explícito que diga o que vai bem e o que necessita de ser melhorado. Esta avaliação também dá feedback ao professor no sentido de este perceber o que está a andar bem ou mal e o que necessita de ser alterado ou não.   

10 - Currículo do ensino

Aqui a filosofia de base é também diferente entre o sistema de ensino Finlandês e Português. Na Finlândia continuam-se a privilegiar as expressões artísticas: Música, trabalhos manuais (Madeira, metais, desenho e pintura, têxteis, ...) há uma filosofia de base que afirma que o currículo deve privilegiar mãos e cérebro. Vêem-se em todas as escolas: máquinas de costura, fogões, oficinas, instrumentos musicais, tornos, brocas, pregos, fios elétricos, ...

Bom diga-se em rigor que vi tudo isto em inúmeras escolas de inúmeros países que já visitei: Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Lituânia, República Checa, Irlanda, Inglaterra. Em Portugal é que desde há mais de 3 décadas é que se desinveste cada vez mais no trabalho de mãos. Uma vez ao mostrar a minha escola a um grupo de professores estrangeiros questionaram-me se lhe estava a esconder as oficinas. Não perceberam que estas não existem! Creio que esta é mesmo uma grande falha no nosso sistema de ensino pois desvaloriza-se uma dimensão essencial do ser humano que é a sua experiência sensorial que lhe é essencial para chegar aos conhecimento e a um desenvolvimento equilibrado (veja-se um bebé e o uso que faz das mãos para descobrir e se desenvolver!).

11 - Gestão curricular

Na Finlândia há um currículo base mas existe autonomia dos professores e das escolas no respeitante à gestão do currículo e número de horas de lecionação existindo limites máximos e mínimos. Não é escondido que esta situação pode levar a disparidades, mas não se tem abdicado da possibilidade de gestão a nível da escola que é o local onde se realizam as caprendizagens. Há de facto aportunidade para uma gestão local a partir de diretrizes nacionais. 

12 – Filosofia de base LBSE 
Sistemas educativos são todos muito parecidos.Há uma interoperabilidade de percursos formativos na lógica de um aluno poder mudar de orientação formativa e puder ir para a universidade após um curso técnico o que na prática acontece muito pouco. Há um  exame ao fim do 9º ano de ensino em língua materna, inglês e matemática. quem não for bem sucedido nestes exames não pode ir para o ensino secundário regular tendo em vista a obtenção de um grau académico  os últimos dados disponíveis apontam para 0,8% (5300 alunos)  

12 – Ambientes de aprendizagem








Nas escolas que vi e nas salas de aula em que entrei as áreas eram grandes e o mobiliário existente era flexível o que permite rearrumações de acordo com a estratégia de aula que se quer implementar. As salas de aula também estavam bem equipadas a nível tecnológico sendo que se a tecnologia não é tudo, esta pode ajudar. As Salas de música parecem mais estúdios do que salas de aula teóricas onde há também instrumentos musicais. 
Pareceu existir uma opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acabam por transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem.

Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são substituídas por vidros, o que implica que, fora da sala, todos possam ver o que se passa dentro dela.

13  Diferenciação nos horários de trabalho
 Os diferentes professores não têm todos os mesmos horários. os professores de línguas têm menos horas de aula porque é suposto terem mais trabalho quotidiano para corrigir: correcção de textos, exercícios de gramática, etc. 



domingo, 28 de fevereiro de 2016

493 - Reflexões sobre o sistema educativo Finlandês I


Pela segunda vez na minha vida estive em Joensuu, na Finlândia, e tive oportunidade de conhecer mais de perto o sistema educativo Finlandês.
A primeira vez foi há cerca de três anos (Março de 2013) onde participei numa visita de estudo organizada pela University of Eastern Finland e que teve a temática: "The teaching profession, teacher education and basic education"  e se destinava a dirigentes, quadros e responsáveis educativos europeus (dessa visita de estudo fiz, na altura, algumas reflexões neste blogue- Ver etiquetas conexas). Mais recentemente, em janeiro deste ano, frequentei um curso sobre "school managment" no âmbito da ação KA1 do projeto Erasmus+ ao qual o AE Carlos Gargaté na Charneca de Caparica,  a escola em que leciono se candidatou no âmbito de um projeto ao qual chamou MAIS (Motivação, Aprendizagem, Inovação e Satisfação).     

Destas duas experiências inesquecíveis tenciono fazer uma síntese, publicando neste blogue algumas reflexões sobre aspetos que considero centrais quando penso no sistema educativo Finlandês. 

De tudo o que escreverei adiante (e irei fazê-lo em três fases: I - reflexões gerais; II - Perplexidades; III -Boas práticas a transferir) importa ter em conta que apenas estive em Joensuu e não em toda a Finlândia e que, nesta cidade, tive oportunidade de visitar apenas 6 ou 7 escolas, decerto as melhores, pois ninguém organiza algo e abre as portas para mostrar o que funciona menos bem! De qualquer forma, considero que isso até faz sentido e que as boas práticas são para ser inspiradoras e para levar o visitante a acreditar que aquilo que vê também é possivel de ser transferível para a sua instituição. 

1 – Creio firmemente que ser professor é uma profissão de prestígio na Finlândia. Deste modo lá os decisores (locais pois na Finlândia não há concursos nacionais de docentes) têm oportunidade de poder escolher para professores apenas os mais qualificados para o exercício da profissão docente sendo que só 10% dos candidatos chegam a ser professores, sendo que para o serem, é-lhes ainda exigido o grau de mestre. Poderemos argumentar que em Portugal também já se passa o mesmo pois há mais candidatos que vagas e o mestrado é também comum para quem chega agora ao ensino. Isso é verdade, mas não estou certo que ser professor seja uma profissão muito considerada e desejada em Portugal e isso faz a diferença, quando se fala nos melhores. (Voltarei a este assunto noutro post).

2 - Há um grande cuidado na formação dos professores nas universidades e os class teachers (professores generalistas do ensino básico) são mesmo muito bem trabalhados. Já para o caso dos professores do   secundário, por serem profissionais muito qualificados e especializados (através da frequência também do ramo científico)   estes acabam por ter também o apelo do mundo empresarial. Exemplo paradigmático são as escolas construídas de propósito no campus universitário onde os estagiários podem fazer estágio. Não se chega a professor só por notas... 




3 - Em 2013, escrevi num relatório que fiz relativo à visita de estudo: "Os Finlandeses têm orgulho nos seus professores e esta é uma profissão bem vista. Esta perceção sobre os professores tem inúmeras consequências: 
Nas minhas várias visitas a escolas e nas conversas formais e informais que fui mantendo, constato que os professores e as escolas, têm imensa auto estima e autoconfiança sobre o seu trabalho. Sabem que fazem bem e que o que fazem é apreciado sendo que isso muda tudo! Pela Finlândia não se procuram culpados de fracassos mas apoiam-se os professores.
As pessoas vestem a camisola, as escolas querem continuar a fazer bem e as coisas boas acontecem."

4 – Há uma confiança absoluta no sistema de ensino: os diretores confiam nos professores e nos alunos e todos uns nos outros. Cada um sabe qual o seu papel; (os pais também): Derivado a este facto, há uma extrema abertura e transparência no sistema que se reflete na abertura completa de salas de aulas a quem queira nelas entrar. No dizer de um diretor: "We trust that every school in finland is a good school. "Tive nas duas vezes que fui a Joensuu a oportunidade de observar aulas e nenhum impedimento me foi colocado. Nenhum! (e sabe-se bem que algo que corresse mal numa sala de aula poderia ser levado para o estrangeiro!). Creio que isto significará que os professores estão plenamente seguros do seu trabalho: ensinam, creem que o fazem bem e portanto, não há nada a temer. Nós ensinamos, os alunos aprendem ou não, mas isso é problema deles. Cada um que faça o seu papel. 


5 - Não há inspeção nem exames nacionais. Basta a autoavaliação da escola e a consciência de que o sistema funciona bem! 


6 - Palavras chave a reter: Responsabilidade, verdade, respeito , motivação (de alunos e professores). Escrevi em 2013 que:  
" Sentido de responsabilidade pessoal por parte dos alunos - Decididamente a imagem que me fica dos alunos de todos os níveis de ensino com os quais tive oportunidade de me cruzar era de que estes davam a impressão de se sentirem felizes na escola e de esta fazer sentido para eles. Pareceu-me existir um sentido de responsabilidade pessoal, fruto da confiança que os professores depositam nos alunos e que estes têm uma motivação intrínseca na aprendizagem."
 
7 - Filosofia de ensino: Nenhum criança deve ser deixada para trás. deve ser explorado o seu potencial e esta frase não é só conversa "fiada" no relativo a ideias base.




  

terça-feira, 21 de maio de 2013

349 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VIII

Ser professor na Finlândia



Um dos aspetos centrais da minha visita à Finlândia e que acaba por ser a descoberta da "chave" que permite explicar o sucesso do sistema educativo Finlandês e onde acho mesmo que a diferença se faz, relativamente a outros paises, é a forma como a sociedade vê a profissão docente. Ser professor nesse país é muito bem visto e, deste modo, muita gente deseja esta profissão.

Isto muda tudo! Havendo muitos candidatos à docência a Universidade pode selecionar os melhores e investir neles, preparando-os convenientemente. Como resultado há sempre muito bons orientadores de estágio, professores estagiários, ligação entre universidades e escolas, teoria e prática.

A partir daqui tudo muda: muda a confiança que se tem nos professores e nos alunos, muda a autoestima, muda a forma como cada um se envolve na vida da escola.

A confiança dos filandeses neste sistema é tal que acabaram com a inspeção da educação e o controle sobre escolas e professores. Reina a confiança!

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Tudo isto acaba por ser um ciclo vicioso que acaba por não poder ser transferível para países como Portugal no qual se corre até o risco de abrir vagas para docentes em determinados grupos especializados e não haver candidatos... Escolhe-se quem vier...

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Tanto se fala em reforma do estado, talvez fosse bom pensar-se o que se espsra das escolas? Queremos, desejamos, ansiamos por um ensino de qualidade ou não? amamos os nossos professores? cuidamos deles? damo-lhes  dignidade? (dão eles próprios tiros no pé?




quarta-feira, 8 de maio de 2013

343 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VIII


Qual o segredo do sistema educativo Finlandês?

Já referi em post anteriores algumas tentativas de resposta para esta questão: Confiança absoluta no sistema, boa escolha dos professores (sendo uma profissão valorizada há mais e melhores candidatos), uma boa gestão, escolas bem equipadas e...

O currículo! 

Há algo que nunca deixo de ver quando vou ao estrangeiro e visito escolas e a Finlândia não foi exceção: existem oficinas em todas as escolas, todas elas muito bem equipadas e todas as crianças no primeiro ciclo têm oportunidade de trabalhar com as mãos: Madeira, texteis, metais. Depois continuam com um leque mais alargado de escolhas nestas áreas: cozinha, electricidade, ... Os finlandeses têm até um lema: "mãos e cérebro". We believe that what you are doing with your hands help's your brain". Eu também acredito! um ser humano não é só cérebro e a atividade manual ajuda-o a compreender e a descobrir o mundo (não andou Piaget a observar os bébés e os seus movimentos circulares na tentativa de apreensão do mundo que os rodeia?)

Na Finlândia quem quer ser professor do ensino básico tem que ter 3 créditos de "educação para os ofícos/artesanato", outros 3 relativos a matérias mais técnicas (tecnologias metais e outros materiais) e ainda outros 6 de educação musical. 

Estou plenamente convencido que  ocaminho que Portugal trilhou desde 2001 está completamente errado e iremos pagar isso muito caro!







domingo, 21 de abril de 2013

334 - Bibliotecas Escolares na Finlândia



Nos passados dias 17 a 23 de Março tive o privilégio de, no âmbito dos programas europeus para a aprendizagem ao longo da vida (cf. Visitas de estudo no site oficial da Agência Nacional PROALV em   http://pt-europa.proalv.pt/public/PortalRender.aspx?PageID={e8681262-4107-4ac1-987f-f1a56bd2b920} )  participar, numa visita de estudo a Joensuu na Finlândia. Esta visita teve como tema: “the teaching profession, teacher education and basic education”

Nesta visita de estudo estiveram presentes 15 responsáveis educativos (diretores, inspectores, representantes de universidades, assessores, …) provenientes de 12 países europeus diferentes, sendo que cada um destes profissionais, para além de um interesse geral sobre o sistema educativo finlandês, pois todos sabemos que os resultados dos testes PISA são bem conhecidos pela sua excelência, teriam os seus próprios interesses pessoais. A mim, particularmente, interessava-me observar as bibliotecas escolares e o papel que estas desempenhavam no sistema educativo.

Vim a saber que, na Finlândia, poucas escolas possuem uma boa biblioteca e outras sentem-se com sorte por se localizarem perto da biblioteca pública de modo a usufruírem dos seus serviços.  No entanto, a maioria das escolas tem uma biblioteca apesar de estas não serem um exemplo de bibliotecas com coleções atualizadas a adequadas.

Nalgumas escolas podem ser destinadas aos professores algumas horas semanais para manter aberta a biblioteca. Também não há financiamento regular para as bibliotecas escolares sendo estas dotadas com um valor aleatório (e possível) para fazer face a despesas que se venham a ter como necessárias. É esta a razão pela qual a coleção não é mantida atualizada.

No entanto, existem algumas escolas e bibliotecas escolares na Finlândia nas quais as coisas funcionam de outro modo e nas quais as coleções estão atualizadas, existem um professor bibliotecário com formação, uma equipa que apoia o professor bibliotecário e um orçamento suficiente para as aquisições e funcionamento. Em algumas localidades, o município associa-se às escolas e investe na biblioteca escolar. Existem também um conjunto de escolas que estão associadas às universidades e que são usadas para colocar os professores estagiários. Nestas existem boas bibliotecas e profissionais para trabalhar em conjunto com a escola. Nestes casos a escola fornece aos professores estagiários uma boa visão do papel da biblioteca escolar no processo de ensino aprendizagem.

A minha visita centrou-se neste último tipo de escolas (com associação com a Universidade do Este da Finlândia). Em todas as escolas que tive oportunidade de visitar, a biblioteca não está localizada numa sala à parte mas implantada no centro da escola (tipo “sala polivalente”) no coração da escola, num espaço comum.

Ambientes de aprendizagem

Esta localização centra-se numa opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acaba por transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem?




Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são substituídas por vidros, o que implica que fora da sala todos possam ver o que se passa dentro dela.    

A atmosfera nas escolas que tive oportunidade de visitar pareceu-me sempre muito calma e saudável, dando a ideia de reinar uma política de confiança entre professores e alunos.
Não se notaram grandes correrias no espaço escola e nem os intervalos eram espaços de grande balbúrdia, para além da alegria natural das crianças em irem "desopilar" após um período de aulas... De facto, os alunos dão a impressão de se sentirem felizes na escola. Provavelmente não serão todos, mas a grande maioria será.
Penso que contribui para esta atmosfera a alta qualidade dos ambientes de aprendizagem que vi: Espaços amplos, equipamento diversificado e moderno, espaços desenhados e pensados para serem multifuncionais.

Os alunos são encorajados a serem independentes dentro e fora da sala de aula e esta é a base de uma boa relação pedagógica. De um modo geral reina o respeito, a confiança e o sentido de responsabilidade. Todos cooperam em nome destes princípios. Neste contexto importa referir que nenhuma criança é deixada para trás (não há reprovações nos primeiros anos e ciclos de ensino) e todas as crianças devem ser aceites com os seus talentos individuais, capacidades e possibilidades de modo a elevá-los e desenvolvê-los.

Em síntese, prevalece a ideia de que um bom ambiente de aprendizagem oferece apoio e ajuda aos aprendentes.

As Bibliotecas Escolares

Neste contexto a Biblioteca Escolar é concebida como um “ambiente de aprendizagem” que se integra num conceito mais vasto (o da escola) e não apenas como o "espaço dos livros".

Numa das escolas, pelo facto do conceito de a biblioteca ser concebida como ambiente de aprendizagem ser levada ao extremo, esta tem até a possibilidade de ser reorganizada (veja-se o pormenor das rodas debaixo das estantes)


Nesta biblioteca, por diversas ocasiões, vi professores e alunos a usarem o espaço para procurarem algo para a realização de trabalhos. Não consegui perceber a existência de professores bibliotecários, o facto é que os livros estavam tratados e arrumados segundo a CDU.
Vi alunos a procurarem textos sobre a primavera e vi a realização de empréstimos domiciliários.


Noutra das escolas que visitei, a escola "primária" de Heinavaara, a biblioteca escolar é também a biblioteca municipal existindo uma boa e excelente parceria.




 Em síntese: Gostei bastante de ver nestas escolas um exemplo prático da conceção da biblioteca escolar como perfeitamente integrada nas práticas quotidianas de professores e alunos e não como “mais um espaço” da escola onde, por vezes, falha a tão desejada articulação curricular e implicação nas aprendizagens (da leitura e das diversas ciências).








segunda-feira, 8 de abril de 2013

331 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VII

Ambientes de Aprendizagem ou o que se espera dos alunos finlandeses (ou vice versa) 

A atmosfera nas escolas que tive oportunidade de visitar pareceram-me sempre muito calma e saudável, parecendo-me reinar uma política de confiança entre professores e alunos.

(Pausa para referir que não me pareceu existir na Finlândia uma grande "questão" étnica ou de minorias provenientes de outras culturas para além da russa, o que permitirá que o meu estimado leitor possa desde já relativizar alguns dos "absolutos").

Não se notaram grandes correrias no espaço escola e nem os intervalos eram espaços de grande balbúrdia para além da alegria natural das crianças em irem "desopilar" após um período de aulas... De facto, os alunos dão a impressão de se sentirem felizes na escola. Provavelmente não serão todos, mas a grande maioria será.

Os alunos são encorajados a serem independentes dentro e fora da sala de aula e esta é a base de uma boa relação pedagógica. De um modo geral reina o respeito, a confiança e o sentido de responsabilidade. Todos cooperam em nome destes princípios. Neste contexto importa referir que nenhuma criança é deixada para trás (não há reprovações nos primeiros anos e ciclos de ensino) e todas as crianças devem ser aceites com os seus talentos individuais, talentos e possibilidades de modo a elevá-los e desenvolvê-los.

Ficou-me na memória uma conversa que tive com um estagiário sobre o sistema educativo Finlandês. Dizia-me ele que nas escolas finlandesas não se ouve uma frase do tipo: "Don´t do that!" e quase gritou a imitá-la. Confesso que me pareceu verdadeira esta consideração pelo facto de, nas minhas observações, não ter visto nenhum professor com ar de "stressado"...

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Penso que contribui para esta atmosfera a alta qualidade dos ambientes de aprendizagem que vi: Espaços amplos, equipamento diversificado e moderno, espaços desenhados e pensados para serem multifuncionais.




(A este propósito não posso deixar de referir a excelente apresentação que o diretor de uma escola, o Dr. Heikki Happonen, nos fez sobre a conceção de edifícios escolares mostrando que a forma como estes são concebidos revelam aquilo que o estado espara delas. Fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem) .

Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz.Apetece estar nestes espaços e não me refiro apenas a alunos. Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, espaços de relax para um ou outra situação complicada, exposição por parte do professor, arrumar rápida e facilmente a sala da forma que se deseje. Veja-se a biblioteca concebida como ambiente de aprendizagem e não como "espaço dos livros" e a possibilidade que esta tem de ser reorganizada (veja-se o caso das rodas debaixo das estantes)
O investimento nos edifícios escolares (pensado na lógica do ensino/aprendizagem) reflete a importância que o estado coloca na conceção da escola como comunidade de aprendizagem. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula para ocorredores são substituídas por vidros, o que implica que fora da sala todos possam ver o qwue se passa dentro dela.    




terça-feira, 2 de abril de 2013

329 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VI

E os alunos finlandeses, como são?

Daquilo que tive oportunidade de observar, estes pareceram-me muito decididos e auto-confiantes.
Sei bem que esta é uma generalização, que não vi uma grande quantidade de escolas e que, numa sala de aula de uma escola secundária, tive oportunidade de ver comportamentos típicos de jovens de todos os países: uma enviava um sms, outro estava com o seu Ipad fazendo tudo menos tirando apontamentos e outra ou outra estava com o ar de tédio ouvindo um professor de história a falar do ultraliberalismo...
No entanto... a larga maioria delas e deles tiravam apontamentos e estavam compenetrados na aula. Recordo-me bem de uma aluno que até sublinhava os apontamentos e tinha uma régua para melhor produzir os seus textos.

Decididamente a imagem que me fica dos alunos de todos os níveis de ensino com os quais tive oportunidade de me cruzar era de que estes davam a impressão de se sentirem felizes na escola e de esta fazer sentido para eles. Mais tarde vim a ter a confirmação que são elas (à semelhança do que se passa em outros países) que mais valorizam a escola, pois os rapazes acham que podem desde logo escolher um curso profissional que têm o seu futuro garantido.

Na Finlândia as raparigas têm muito melhores notas que os rapazes (sobretudo a partir da pré-adolescência)  e esta é até uma possibilidade de ser a chave do sucesso PISA...

Pareceu-me existir um sentido de responsabilidade pessoal, fruto da confiança que os professores depositam nos alunos, e que os alunos têm uma motivação intrínseca na aprendizagem. Esta impressão baseia-se em duas visitas a escolas em que foram os alunos que nos guiaram, sem intermediação de nenhum adulto.

(Nota: Tenho termo de comparação e já tive oportunidade de observar salas de aula em muitos países tal como Noruega, Dinamarca, Suécia, Inglaterra, Irlanda, República Checa, Lituânia, Espanha, Portugal... Nunca saí desses países com esta noção acerca dos alunos).
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Outro aspecto curioso que guardo deste visita é o facto de não me recordar ter visto alunos obesos (e estive atento ao facto)!
Não creio que isto seja devido ao facto de em cada escola o almoço ter sempre salada a acompanhar e haver leite distribuído gratuitamente (Tal como na Suécia). Lá que dá que pensar...

Nota 2 - Aqui cada aluno deve levantar o seu tabuleiro e colocar em tabuleiros a louça que usou: Copos para um lado, talheres para outro, pratos para outro, resíduos orgânicos separados dos inorgânicos...)  

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Então mas é tudo um mar de rosas na Finlândia?

Não! já acima descrevi alguns aspectos mais problemáticos e os organizadores não ocultaram alguns problemas que percepcionam, a saber:
- Desde 2008 que se regista um aumento dos problemas comportamentais nas escolas finlandesas.
- Há mesmo um desfasamento nos resultados académicos entre rapazes e raparigas e não há indicações que este desfasamento tenda a diminuir.
- Há justificadas preocupações acerca do bem-estar de algumas jovens no ensino secundário que parecem em risco de depressão e falta de auto-estima (no fim de contas, num grupo só há um número um...)