domingo, 21 de abril de 2013

334 - Bibliotecas Escolares na Finlândia



Nos passados dias 17 a 23 de Março tive o privilégio de, no âmbito dos programas europeus para a aprendizagem ao longo da vida (cf. Visitas de estudo no site oficial da Agência Nacional PROALV em   http://pt-europa.proalv.pt/public/PortalRender.aspx?PageID={e8681262-4107-4ac1-987f-f1a56bd2b920} )  participar, numa visita de estudo a Joensuu na Finlândia. Esta visita teve como tema: “the teaching profession, teacher education and basic education”

Nesta visita de estudo estiveram presentes 15 responsáveis educativos (diretores, inspectores, representantes de universidades, assessores, …) provenientes de 12 países europeus diferentes, sendo que cada um destes profissionais, para além de um interesse geral sobre o sistema educativo finlandês, pois todos sabemos que os resultados dos testes PISA são bem conhecidos pela sua excelência, teriam os seus próprios interesses pessoais. A mim, particularmente, interessava-me observar as bibliotecas escolares e o papel que estas desempenhavam no sistema educativo.

Vim a saber que, na Finlândia, poucas escolas possuem uma boa biblioteca e outras sentem-se com sorte por se localizarem perto da biblioteca pública de modo a usufruírem dos seus serviços.  No entanto, a maioria das escolas tem uma biblioteca apesar de estas não serem um exemplo de bibliotecas com coleções atualizadas a adequadas.

Nalgumas escolas podem ser destinadas aos professores algumas horas semanais para manter aberta a biblioteca. Também não há financiamento regular para as bibliotecas escolares sendo estas dotadas com um valor aleatório (e possível) para fazer face a despesas que se venham a ter como necessárias. É esta a razão pela qual a coleção não é mantida atualizada.

No entanto, existem algumas escolas e bibliotecas escolares na Finlândia nas quais as coisas funcionam de outro modo e nas quais as coleções estão atualizadas, existem um professor bibliotecário com formação, uma equipa que apoia o professor bibliotecário e um orçamento suficiente para as aquisições e funcionamento. Em algumas localidades, o município associa-se às escolas e investe na biblioteca escolar. Existem também um conjunto de escolas que estão associadas às universidades e que são usadas para colocar os professores estagiários. Nestas existem boas bibliotecas e profissionais para trabalhar em conjunto com a escola. Nestes casos a escola fornece aos professores estagiários uma boa visão do papel da biblioteca escolar no processo de ensino aprendizagem.

A minha visita centrou-se neste último tipo de escolas (com associação com a Universidade do Este da Finlândia). Em todas as escolas que tive oportunidade de visitar, a biblioteca não está localizada numa sala à parte mas implantada no centro da escola (tipo “sala polivalente”) no coração da escola, num espaço comum.

Ambientes de aprendizagem

Esta localização centra-se numa opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acaba por transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem?




Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são substituídas por vidros, o que implica que fora da sala todos possam ver o que se passa dentro dela.    

A atmosfera nas escolas que tive oportunidade de visitar pareceu-me sempre muito calma e saudável, dando a ideia de reinar uma política de confiança entre professores e alunos.
Não se notaram grandes correrias no espaço escola e nem os intervalos eram espaços de grande balbúrdia, para além da alegria natural das crianças em irem "desopilar" após um período de aulas... De facto, os alunos dão a impressão de se sentirem felizes na escola. Provavelmente não serão todos, mas a grande maioria será.
Penso que contribui para esta atmosfera a alta qualidade dos ambientes de aprendizagem que vi: Espaços amplos, equipamento diversificado e moderno, espaços desenhados e pensados para serem multifuncionais.

Os alunos são encorajados a serem independentes dentro e fora da sala de aula e esta é a base de uma boa relação pedagógica. De um modo geral reina o respeito, a confiança e o sentido de responsabilidade. Todos cooperam em nome destes princípios. Neste contexto importa referir que nenhuma criança é deixada para trás (não há reprovações nos primeiros anos e ciclos de ensino) e todas as crianças devem ser aceites com os seus talentos individuais, capacidades e possibilidades de modo a elevá-los e desenvolvê-los.

Em síntese, prevalece a ideia de que um bom ambiente de aprendizagem oferece apoio e ajuda aos aprendentes.

As Bibliotecas Escolares

Neste contexto a Biblioteca Escolar é concebida como um “ambiente de aprendizagem” que se integra num conceito mais vasto (o da escola) e não apenas como o "espaço dos livros".

Numa das escolas, pelo facto do conceito de a biblioteca ser concebida como ambiente de aprendizagem ser levada ao extremo, esta tem até a possibilidade de ser reorganizada (veja-se o pormenor das rodas debaixo das estantes)


Nesta biblioteca, por diversas ocasiões, vi professores e alunos a usarem o espaço para procurarem algo para a realização de trabalhos. Não consegui perceber a existência de professores bibliotecários, o facto é que os livros estavam tratados e arrumados segundo a CDU.
Vi alunos a procurarem textos sobre a primavera e vi a realização de empréstimos domiciliários.


Noutra das escolas que visitei, a escola "primária" de Heinavaara, a biblioteca escolar é também a biblioteca municipal existindo uma boa e excelente parceria.




 Em síntese: Gostei bastante de ver nestas escolas um exemplo prático da conceção da biblioteca escolar como perfeitamente integrada nas práticas quotidianas de professores e alunos e não como “mais um espaço” da escola onde, por vezes, falha a tão desejada articulação curricular e implicação nas aprendizagens (da leitura e das diversas ciências).








domingo, 14 de abril de 2013

332 - 27 coisas que um bibliotecário faz

É sempre bom dar a conhecer o que faz um Bibliotecário (afinal ainda há muita imagem pré-concebida, muito imaginário e muito mito acerca do assunto)


segunda-feira, 8 de abril de 2013

331 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VII

Ambientes de Aprendizagem ou o que se espera dos alunos finlandeses (ou vice versa) 

A atmosfera nas escolas que tive oportunidade de visitar pareceram-me sempre muito calma e saudável, parecendo-me reinar uma política de confiança entre professores e alunos.

(Pausa para referir que não me pareceu existir na Finlândia uma grande "questão" étnica ou de minorias provenientes de outras culturas para além da russa, o que permitirá que o meu estimado leitor possa desde já relativizar alguns dos "absolutos").

Não se notaram grandes correrias no espaço escola e nem os intervalos eram espaços de grande balbúrdia para além da alegria natural das crianças em irem "desopilar" após um período de aulas... De facto, os alunos dão a impressão de se sentirem felizes na escola. Provavelmente não serão todos, mas a grande maioria será.

Os alunos são encorajados a serem independentes dentro e fora da sala de aula e esta é a base de uma boa relação pedagógica. De um modo geral reina o respeito, a confiança e o sentido de responsabilidade. Todos cooperam em nome destes princípios. Neste contexto importa referir que nenhuma criança é deixada para trás (não há reprovações nos primeiros anos e ciclos de ensino) e todas as crianças devem ser aceites com os seus talentos individuais, talentos e possibilidades de modo a elevá-los e desenvolvê-los.

Ficou-me na memória uma conversa que tive com um estagiário sobre o sistema educativo Finlandês. Dizia-me ele que nas escolas finlandesas não se ouve uma frase do tipo: "Don´t do that!" e quase gritou a imitá-la. Confesso que me pareceu verdadeira esta consideração pelo facto de, nas minhas observações, não ter visto nenhum professor com ar de "stressado"...

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Penso que contribui para esta atmosfera a alta qualidade dos ambientes de aprendizagem que vi: Espaços amplos, equipamento diversificado e moderno, espaços desenhados e pensados para serem multifuncionais.




(A este propósito não posso deixar de referir a excelente apresentação que o diretor de uma escola, o Dr. Heikki Happonen, nos fez sobre a conceção de edifícios escolares mostrando que a forma como estes são concebidos revelam aquilo que o estado espara delas. Fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem) .

Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz.Apetece estar nestes espaços e não me refiro apenas a alunos. Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, espaços de relax para um ou outra situação complicada, exposição por parte do professor, arrumar rápida e facilmente a sala da forma que se deseje. Veja-se a biblioteca concebida como ambiente de aprendizagem e não como "espaço dos livros" e a possibilidade que esta tem de ser reorganizada (veja-se o caso das rodas debaixo das estantes)
O investimento nos edifícios escolares (pensado na lógica do ensino/aprendizagem) reflete a importância que o estado coloca na conceção da escola como comunidade de aprendizagem. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula para ocorredores são substituídas por vidros, o que implica que fora da sala todos possam ver o qwue se passa dentro dela.    




quarta-feira, 3 de abril de 2013

330 - Eis alguém que sempre esteve muito à frente!

A oportunidade de dinamizar uma sessão de formação para professores bibliotecários em Évora obrigou-me a rever a minha dissertação de mestrado, pois o assunto eram as redes sociais e as ferramentas Web 2.0.

Neste contexto, nunca consigo deixar de me surpreender com o extraordinário texto de José António Calixto (que obviamente usei na minha dissertação) que mostrou que o seu pensamento estava muito para além do tempo em que se vivia quando escreveu o seguinte:


"A sala de aula passa a ser apenas um entre muitos outros locais, na escola e fora dela, onde as experiências de aprendizagem têm lugar, […] A relativização do conhecimento científico introduz a incerteza no campo da educação e sublinha o valor da pesquisa individual e do desenvolvimento das capacidades de manuseamento da informação. Aprender é cada vez menos memorizar conhecimentos e cada vez mais preparar-se para os saber encontrar, avaliar e utilizar. A capacidade de atualização passa a ser uma ferramenta essencial ao indivíduo."

Terá este texto sido escrito quando? 2012? 2011? 2009?... 

Não! o texto é de 1996!!! nos adventos da generalização da Internet, com o Windows 1995. O autor referia-se ainda à superabundância da informação a partir da chamada sociedade da informação.

Se, já na altura o texto era fundamental, o que poderíamos dizer agora dele? e como é que ainda há professores e bibliotecários que pensam e agem como se nada tivesse mudado!

Haja quem saiba colocar-se ao ritmo do tempo em que se vive e não viva alicerçado a conceções perfeitamente desatualizadas..

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Calixto, J. A. (1996). A Biblioteca Escolar e a sociedade de informação. Lisboa: Caminho.

 

terça-feira, 2 de abril de 2013

329 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education VI

E os alunos finlandeses, como são?

Daquilo que tive oportunidade de observar, estes pareceram-me muito decididos e auto-confiantes.
Sei bem que esta é uma generalização, que não vi uma grande quantidade de escolas e que, numa sala de aula de uma escola secundária, tive oportunidade de ver comportamentos típicos de jovens de todos os países: uma enviava um sms, outro estava com o seu Ipad fazendo tudo menos tirando apontamentos e outra ou outra estava com o ar de tédio ouvindo um professor de história a falar do ultraliberalismo...
No entanto... a larga maioria delas e deles tiravam apontamentos e estavam compenetrados na aula. Recordo-me bem de uma aluno que até sublinhava os apontamentos e tinha uma régua para melhor produzir os seus textos.

Decididamente a imagem que me fica dos alunos de todos os níveis de ensino com os quais tive oportunidade de me cruzar era de que estes davam a impressão de se sentirem felizes na escola e de esta fazer sentido para eles. Mais tarde vim a ter a confirmação que são elas (à semelhança do que se passa em outros países) que mais valorizam a escola, pois os rapazes acham que podem desde logo escolher um curso profissional que têm o seu futuro garantido.

Na Finlândia as raparigas têm muito melhores notas que os rapazes (sobretudo a partir da pré-adolescência)  e esta é até uma possibilidade de ser a chave do sucesso PISA...

Pareceu-me existir um sentido de responsabilidade pessoal, fruto da confiança que os professores depositam nos alunos, e que os alunos têm uma motivação intrínseca na aprendizagem. Esta impressão baseia-se em duas visitas a escolas em que foram os alunos que nos guiaram, sem intermediação de nenhum adulto.

(Nota: Tenho termo de comparação e já tive oportunidade de observar salas de aula em muitos países tal como Noruega, Dinamarca, Suécia, Inglaterra, Irlanda, República Checa, Lituânia, Espanha, Portugal... Nunca saí desses países com esta noção acerca dos alunos).
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Outro aspecto curioso que guardo deste visita é o facto de não me recordar ter visto alunos obesos (e estive atento ao facto)!
Não creio que isto seja devido ao facto de em cada escola o almoço ter sempre salada a acompanhar e haver leite distribuído gratuitamente (Tal como na Suécia). Lá que dá que pensar...

Nota 2 - Aqui cada aluno deve levantar o seu tabuleiro e colocar em tabuleiros a louça que usou: Copos para um lado, talheres para outro, pratos para outro, resíduos orgânicos separados dos inorgânicos...)  

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Então mas é tudo um mar de rosas na Finlândia?

Não! já acima descrevi alguns aspectos mais problemáticos e os organizadores não ocultaram alguns problemas que percepcionam, a saber:
- Desde 2008 que se regista um aumento dos problemas comportamentais nas escolas finlandesas.
- Há mesmo um desfasamento nos resultados académicos entre rapazes e raparigas e não há indicações que este desfasamento tenda a diminuir.
- Há justificadas preocupações acerca do bem-estar de algumas jovens no ensino secundário que parecem em risco de depressão e falta de auto-estima (no fim de contas, num grupo só há um número um...)  


terça-feira, 26 de março de 2013

328 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education V

O SciFest...

O que é o Scifest?

Trata-se de uma iniciativa que liga a Universidade e as escolas em torno da divulgação e promoção da ciência.
É bem interessante ver que durante uns dias, alunos, professores, escolas, universidades procuram fazer ciência em conjunto.

E não me parece nada difícil organizar este tipo de eventos. Os cientistas conquistam-se assim! seremos capazes de os fazer em Portugal?  


quinta-feira, 21 de março de 2013

327 - Visita de estudo à Finlândia: The teaching profession, teacher education and basic education IV

Correndo o risco de me repetir, tenho mesmo de referir que aquilo que me parece fundamental no sistema educativo finlandês é a confiança que eles depositam nos professores.

Parece fácil?

Então pernse-se no seguinte:

1 - Quantos diretores de escola permitiriam que um grupo de estrangeiros de várias nacionalidades entrassem livremente nas salas de aula e se senteassem a obervar?

2 - Quantos professores portugueses deixariam que um grupo de estrangeiros entrasse livremente na sua sala de aula?

3 - Quanto professores e diretores confiriam nos alunos o suficiente para deixar que professores de outors países entrassem na sua sala de aula? mesmo que isso significasse a hipótese de algo correr mal?

Pois...
Aqui as erespostas aos pontos anteriores são todas positivas. Isso muda tudo!
Transparância e confiança são as chaves!

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4 - Para além disso, quantas universidades deixariam que os seus estagiários falassem livremente com os visitantes correndo o risco de estes dizerem mal do seu sistema de ensino?

Estes deixam...

5 - Para além disso, estes estagiários são todos mesmo muito bons! acreditem, a Finlândia escolhe bem os seus professores!