Nesta visita
de estudo estiveram presentes 15 responsáveis educativos (diretores,
inspectores, representantes de universidades, assessores, …) provenientes de 12
países europeus diferentes, sendo que cada um destes profissionais, para além
de um interesse geral sobre o sistema educativo finlandês, pois todos sabemos
que os resultados dos testes PISA são bem conhecidos pela sua excelência,
teriam os seus próprios interesses pessoais. A mim, particularmente, interessava-me
observar as bibliotecas escolares e o papel que estas desempenhavam no sistema
educativo.
Vim a saber
que, na Finlândia, poucas escolas possuem uma boa biblioteca e outras sentem-se
com sorte por se localizarem perto da biblioteca pública de modo a usufruírem
dos seus serviços. No entanto, a maioria das escolas tem uma biblioteca
apesar de estas não serem um exemplo de bibliotecas com coleções atualizadas a
adequadas.
Nalgumas
escolas podem ser destinadas aos professores algumas horas semanais para manter
aberta a biblioteca. Também não há financiamento regular para as bibliotecas
escolares sendo estas dotadas com um valor aleatório (e possível) para fazer
face a despesas que se venham a ter como necessárias. É esta a razão pela qual
a coleção não é mantida atualizada.
No entanto,
existem algumas escolas e bibliotecas escolares na Finlândia nas quais as
coisas funcionam de outro modo e nas quais as coleções estão atualizadas, existem
um professor bibliotecário com formação, uma equipa que apoia o professor bibliotecário
e um orçamento suficiente para as aquisições e funcionamento. Em algumas
localidades, o município associa-se às escolas e investe na biblioteca escolar.
Existem também um conjunto de escolas que estão associadas às universidades e
que são usadas para colocar os professores estagiários. Nestas existem boas
bibliotecas e profissionais para trabalhar em conjunto com a escola. Nestes
casos a escola fornece aos professores estagiários uma boa visão do papel da
biblioteca escolar no processo de ensino aprendizagem.
A minha visita centrou-se neste último tipo de escolas (com associação
com a Universidade do Este da Finlândia). Em todas as escolas que tive
oportunidade de visitar, a biblioteca não está localizada numa sala à parte mas implantada no centro da escola
(tipo “sala polivalente”) no coração da escola, num espaço comum.
Ambientes de aprendizagem
Esta localização centra-se numa
opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as
aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom
ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo
que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acaba por
transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas,
prisões ou ambientes de aprendizagem?

Os edifícios escolares aparentam ser
iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes
espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que
permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do
professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”.
Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de
Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são
substituídas por vidros, o que implica que fora da sala todos possam ver o que
se passa dentro dela.
A atmosfera nas escolas que tive
oportunidade de visitar pareceu-me sempre muito calma e saudável, dando a ideia
de reinar uma política de confiança entre professores e alunos.
Não se notaram grandes correrias no
espaço escola e nem os intervalos eram espaços de grande balbúrdia, para além
da alegria natural das crianças em irem "desopilar" após um período
de aulas... De facto, os alunos dão a impressão de se sentirem felizes na
escola. Provavelmente não serão todos, mas a grande maioria será.
Penso que contribui para esta
atmosfera a alta qualidade dos ambientes de aprendizagem que vi: Espaços
amplos, equipamento diversificado e moderno, espaços desenhados e pensados para
serem multifuncionais.
Os alunos são encorajados a serem independentes dentro e fora da sala de aula e
esta é a base de uma boa relação pedagógica. De um modo geral reina o respeito,
a confiança e o sentido de responsabilidade. Todos cooperam em nome destes
princípios. Neste contexto importa referir que nenhuma criança é deixada para
trás (não há reprovações nos primeiros anos e ciclos de ensino) e todas as
crianças devem ser aceites com os seus talentos individuais, capacidades e
possibilidades de modo a elevá-los e desenvolvê-los.
Em síntese, prevalece a ideia de que
um bom ambiente de aprendizagem oferece apoio e ajuda aos aprendentes.
As Bibliotecas Escolares
Neste contexto a Biblioteca Escolar é
concebida como um “ambiente de aprendizagem” que se integra num conceito mais
vasto (o da escola) e não apenas como o "espaço dos livros".
Numa das escolas, pelo facto do
conceito de a biblioteca ser concebida como ambiente de aprendizagem ser levada
ao extremo, esta tem até a possibilidade de ser reorganizada (veja-se o pormenor
das rodas debaixo das estantes)
Nesta biblioteca, por diversas
ocasiões, vi professores e alunos a usarem o espaço para procurarem algo para a
realização de trabalhos. Não consegui perceber a existência de professores
bibliotecários, o facto é que os livros estavam tratados e arrumados segundo a
CDU.
Vi alunos a procurarem textos sobre
a primavera e vi a realização de empréstimos domiciliários.
Noutra das escolas que visitei, a escola
"primária" de Heinavaara, a biblioteca escolar é também a biblioteca
municipal existindo uma boa e excelente parceria.
Em síntese: Gostei bastante de ver nestas
escolas um exemplo prático da conceção da biblioteca escolar como perfeitamente
integrada nas práticas quotidianas de professores e alunos e não como “mais um
espaço” da escola onde, por vezes, falha a tão desejada articulação curricular
e implicação nas aprendizagens (da leitura e das diversas ciências).