domingo, 6 de março de 2016

495 - Reflexões sobre o sistema educativo Finlandês II


Na sequência da minha publicação de 28 de fevereiro continuo agora o meu relato sobre a minha dupla experiência em Joensuu, na Finlândia, onde tive a oportunidade de conhecer mais de perto o sistema educativo Finlandês.


I - reflexões gerais - 2ª parte


8 - Estabilidade das políticas educativas que tiveram origem nos anos 80 e 90

Em tudo o que li, pareceu-me existir uma grande estabilidade das políticas educativas, senão vejamos:

- Basic education act de 1998;
- Qualifications of educational staff de 1998;
- Autonomia das escolas e descentralização educativa, abolição das inspeções - anos 90 do século XX;
- National core curriculum - janeiro de 2004;

Poderemos objetar que também em Portugal a LBSE é de 1986, mas é do domínio público que desde 2001 se assistiu a uma série de reformas curriculares de 4 em 4 anos sem que se conheçam avaliações das falhas dos modelos anteriores.

9 – Retenções

Quase não há retenções na Finlândia, em cada ano só cerca de 0,4% dos alunos do ensino básico ficam retidos (cerca de 2000). Creio que isto também decorre de uma filosofia de base do sistema. Explico-me: não acredito que todos os meninos finlandeses sejam focados na sua aprendizagem e que estes sejam muito diferentes dos alunos portugueses que parecerão decididos em não aprender. A questão é que a filosofia do sistema e da avaliação é diferente. Alí procura-se o sucesso, aqui retém-se o aluno pelas mais diversas razões, acha-se isso natural. A retenção faz parte da filosofia do ensino Português e a mentalidade do professor está preparada para tal.
A lógica da avaliação não é para o certificado/certificação, mas para dar feedback concreto aos alunos de modo a que estes aprendam e tenham motivação para aprender. Um feedback explícito que diga o que vai bem e o que necessita de ser melhorado. Esta avaliação também dá feedback ao professor no sentido de este perceber o que está a andar bem ou mal e o que necessita de ser alterado ou não.   

10 - Currículo do ensino

Aqui a filosofia de base é também diferente entre o sistema de ensino Finlandês e Português. Na Finlândia continuam-se a privilegiar as expressões artísticas: Música, trabalhos manuais (Madeira, metais, desenho e pintura, têxteis, ...) há uma filosofia de base que afirma que o currículo deve privilegiar mãos e cérebro. Vêem-se em todas as escolas: máquinas de costura, fogões, oficinas, instrumentos musicais, tornos, brocas, pregos, fios elétricos, ...

Bom diga-se em rigor que vi tudo isto em inúmeras escolas de inúmeros países que já visitei: Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Lituânia, República Checa, Irlanda, Inglaterra. Em Portugal é que desde há mais de 3 décadas é que se desinveste cada vez mais no trabalho de mãos. Uma vez ao mostrar a minha escola a um grupo de professores estrangeiros questionaram-me se lhe estava a esconder as oficinas. Não perceberam que estas não existem! Creio que esta é mesmo uma grande falha no nosso sistema de ensino pois desvaloriza-se uma dimensão essencial do ser humano que é a sua experiência sensorial que lhe é essencial para chegar aos conhecimento e a um desenvolvimento equilibrado (veja-se um bebé e o uso que faz das mãos para descobrir e se desenvolver!).

11 - Gestão curricular

Na Finlândia há um currículo base mas existe autonomia dos professores e das escolas no respeitante à gestão do currículo e número de horas de lecionação existindo limites máximos e mínimos. Não é escondido que esta situação pode levar a disparidades, mas não se tem abdicado da possibilidade de gestão a nível da escola que é o local onde se realizam as caprendizagens. Há de facto aportunidade para uma gestão local a partir de diretrizes nacionais. 

12 – Filosofia de base LBSE 
Sistemas educativos são todos muito parecidos.Há uma interoperabilidade de percursos formativos na lógica de um aluno poder mudar de orientação formativa e puder ir para a universidade após um curso técnico o que na prática acontece muito pouco. Há um  exame ao fim do 9º ano de ensino em língua materna, inglês e matemática. quem não for bem sucedido nestes exames não pode ir para o ensino secundário regular tendo em vista a obtenção de um grau académico  os últimos dados disponíveis apontam para 0,8% (5300 alunos)  

12 – Ambientes de aprendizagem








Nas escolas que vi e nas salas de aula em que entrei as áreas eram grandes e o mobiliário existente era flexível o que permite rearrumações de acordo com a estratégia de aula que se quer implementar. As salas de aula também estavam bem equipadas a nível tecnológico sendo que se a tecnologia não é tudo, esta pode ajudar. As Salas de música parecem mais estúdios do que salas de aula teóricas onde há também instrumentos musicais. 
Pareceu existir uma opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acabam por transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem.

Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são substituídas por vidros, o que implica que, fora da sala, todos possam ver o que se passa dentro dela.

13  Diferenciação nos horários de trabalho
 Os diferentes professores não têm todos os mesmos horários. os professores de línguas têm menos horas de aula porque é suposto terem mais trabalho quotidiano para corrigir: correcção de textos, exercícios de gramática, etc. 



terça-feira, 1 de março de 2016

494 - Mapas mentais

Confesso que achei fantástica a exposição de trabalhos escolares que uma professora de Geografia organizou e que se referiam à elaboração de planisférios por alunos do 7º e 8º ano de escolaridade, sendo que estes planisférios seriam elaborados a partir de uma representação mental e não por cópia de algum planisfério existente.

Esta exposição permite constatar o que fica na cabeça dos miúdos após 7, 8 ou mais anos de escolarização e como estes têm ou não contacto com mapas na sua vida. Há mapas para todos os gostos desde aqueles com alguma aproximação à realidade, àqueles sem aproximação nenhuma a essa mesma realidade, havendo até um no qual Portugal ocupa uma dimensão hiper-exagerada. 

Este exercício torna.se ainda mais interessante por demonstrar à saciedade que se pode avaliar e testar de muitíssimas outras formas e que a avaliação por um instrumento escrito, tipo teste, acaba por ser redutora, pois treina os alunos sempre para o mesmo tipo de representação e de exercício. Quem sabe se também terão havido alunos bons aqui a menos bons nos tradicionais testes escritos.

Creio ainda que este tipo de exercício permite ainda aferir o grau de desenvolvimento mental dos alunos, pois no desenho o disfarce é mais difícil visto que cada um deles está menos habituado/treinado  a "disfarçar" do que na escrita.  


domingo, 28 de fevereiro de 2016

493 - Reflexões sobre o sistema educativo Finlandês I


Pela segunda vez na minha vida estive em Joensuu, na Finlândia, e tive oportunidade de conhecer mais de perto o sistema educativo Finlandês.
A primeira vez foi há cerca de três anos (Março de 2013) onde participei numa visita de estudo organizada pela University of Eastern Finland e que teve a temática: "The teaching profession, teacher education and basic education"  e se destinava a dirigentes, quadros e responsáveis educativos europeus (dessa visita de estudo fiz, na altura, algumas reflexões neste blogue- Ver etiquetas conexas). Mais recentemente, em janeiro deste ano, frequentei um curso sobre "school managment" no âmbito da ação KA1 do projeto Erasmus+ ao qual o AE Carlos Gargaté na Charneca de Caparica,  a escola em que leciono se candidatou no âmbito de um projeto ao qual chamou MAIS (Motivação, Aprendizagem, Inovação e Satisfação).     

Destas duas experiências inesquecíveis tenciono fazer uma síntese, publicando neste blogue algumas reflexões sobre aspetos que considero centrais quando penso no sistema educativo Finlandês. 

De tudo o que escreverei adiante (e irei fazê-lo em três fases: I - reflexões gerais; II - Perplexidades; III -Boas práticas a transferir) importa ter em conta que apenas estive em Joensuu e não em toda a Finlândia e que, nesta cidade, tive oportunidade de visitar apenas 6 ou 7 escolas, decerto as melhores, pois ninguém organiza algo e abre as portas para mostrar o que funciona menos bem! De qualquer forma, considero que isso até faz sentido e que as boas práticas são para ser inspiradoras e para levar o visitante a acreditar que aquilo que vê também é possivel de ser transferível para a sua instituição. 

1 – Creio firmemente que ser professor é uma profissão de prestígio na Finlândia. Deste modo lá os decisores (locais pois na Finlândia não há concursos nacionais de docentes) têm oportunidade de poder escolher para professores apenas os mais qualificados para o exercício da profissão docente sendo que só 10% dos candidatos chegam a ser professores, sendo que para o serem, é-lhes ainda exigido o grau de mestre. Poderemos argumentar que em Portugal também já se passa o mesmo pois há mais candidatos que vagas e o mestrado é também comum para quem chega agora ao ensino. Isso é verdade, mas não estou certo que ser professor seja uma profissão muito considerada e desejada em Portugal e isso faz a diferença, quando se fala nos melhores. (Voltarei a este assunto noutro post).

2 - Há um grande cuidado na formação dos professores nas universidades e os class teachers (professores generalistas do ensino básico) são mesmo muito bem trabalhados. Já para o caso dos professores do   secundário, por serem profissionais muito qualificados e especializados (através da frequência também do ramo científico)   estes acabam por ter também o apelo do mundo empresarial. Exemplo paradigmático são as escolas construídas de propósito no campus universitário onde os estagiários podem fazer estágio. Não se chega a professor só por notas... 




3 - Em 2013, escrevi num relatório que fiz relativo à visita de estudo: "Os Finlandeses têm orgulho nos seus professores e esta é uma profissão bem vista. Esta perceção sobre os professores tem inúmeras consequências: 
Nas minhas várias visitas a escolas e nas conversas formais e informais que fui mantendo, constato que os professores e as escolas, têm imensa auto estima e autoconfiança sobre o seu trabalho. Sabem que fazem bem e que o que fazem é apreciado sendo que isso muda tudo! Pela Finlândia não se procuram culpados de fracassos mas apoiam-se os professores.
As pessoas vestem a camisola, as escolas querem continuar a fazer bem e as coisas boas acontecem."

4 – Há uma confiança absoluta no sistema de ensino: os diretores confiam nos professores e nos alunos e todos uns nos outros. Cada um sabe qual o seu papel; (os pais também): Derivado a este facto, há uma extrema abertura e transparência no sistema que se reflete na abertura completa de salas de aulas a quem queira nelas entrar. No dizer de um diretor: "We trust that every school in finland is a good school. "Tive nas duas vezes que fui a Joensuu a oportunidade de observar aulas e nenhum impedimento me foi colocado. Nenhum! (e sabe-se bem que algo que corresse mal numa sala de aula poderia ser levado para o estrangeiro!). Creio que isto significará que os professores estão plenamente seguros do seu trabalho: ensinam, creem que o fazem bem e portanto, não há nada a temer. Nós ensinamos, os alunos aprendem ou não, mas isso é problema deles. Cada um que faça o seu papel. 


5 - Não há inspeção nem exames nacionais. Basta a autoavaliação da escola e a consciência de que o sistema funciona bem! 


6 - Palavras chave a reter: Responsabilidade, verdade, respeito , motivação (de alunos e professores). Escrevi em 2013 que:  
" Sentido de responsabilidade pessoal por parte dos alunos - Decididamente a imagem que me fica dos alunos de todos os níveis de ensino com os quais tive oportunidade de me cruzar era de que estes davam a impressão de se sentirem felizes na escola e de esta fazer sentido para eles. Pareceu-me existir um sentido de responsabilidade pessoal, fruto da confiança que os professores depositam nos alunos e que estes têm uma motivação intrínseca na aprendizagem."
 
7 - Filosofia de ensino: Nenhum criança deve ser deixada para trás. deve ser explorado o seu potencial e esta frase não é só conversa "fiada" no relativo a ideias base.




  

domingo, 13 de dezembro de 2015

492 - Uma viagem para a literacia mediática

Jack – Especialista em utilização da tecnologia e que se sente à vontade no Facebook, Twitter e Skype, ajudando toda a família nesta matéria vai iniciar uma viagem, dirigindo-se para uma ilha existente no meio do oceano, uma ilha de possibilidades e liberdade, cujos habitantes vivem felizes, sendo tecnologicamente competentes.
Para chegar a essa ilha, Jack, tem que enfrentar diferentes perigos/riscos, as “fortes correntes que existem abaixo da superfície da água”, sendo ajudado pela LUX que o auxilia para ajudar a tornar Jack ainda mais consciente de que é necessário desenvolver a capacidade de questionar a forma como se usam os media e a tecnologia.
Esta é uma aventura que vai transformar Jack e torna-lo media competente.